Era um dia comum de estágio no ensino
fundamental I, precisamente no 3º ano de uma Escola Estadual localizada em um
bairro na zona leste do estado de São Paulo; Bem, pelo menos eu imaginava ser um dia
comum, na qual eu seguiria uma rotina de observações que me levariam a
profundas reflexões sobre as práticas escolares. Mas, de relance vejo um menino
alvoroçado e chateado em um pequeno canto na sala de aula.
Sem delongas lhe pergunto o que havia
acontecido para tê-lo deixado daquele jeito. Ele me disse que não gostava de ir
à escola e que estava lá por obrigação, pois seus pais estavam o castigando por
ele ser um menino mal. É que, uma semana antes da minha chegada o menino em
questão havia tentado fugir da escola e, pasmem, até conseguiu quebrar os portões
da instituição. Meio inexperiente, tentei dizer palavras que pudessem fazer
sentido à sua estadia na escola, porém a resposta do garoto foi essa: “a única coisa
importante nesse mundo é saber a direção dos lugares”. Eu não entendi muito
bem, mas logo o garoto me confessou que gostaria de viajar e conhecer o mundo
todo e não queria ficar preso em uma sala de aula chata aprendendo coisas que
não ia precisar. Em suas explicações para tentar se livrar da escola e de mim,
o menino disse algo que me deixou pensativa: “ Eu posso aprender tudo o que
preciso na rua”.
Nesse momento, me bateu uma ideia, e
ela pulsou como as epifanias que Clarice Lispector dizia ter quando criava suas obras.
Dentro da minha bolsa havia um livro que poderia me auxiliar a fazer um
trabalho dirigido e que tivesse significado real para aquele garoto. Quer saber
qual o livro? Simples O Limpador de Placas.
O Livro trás a história de um senhor
humilde que trabalhava limpando placas. Ele era feliz em sua profissão e fazia seu
trabalho com muito esmero, porém, um dia, ouviu uma conversa entre mãe e filho
e, desde então não foi mais o mesmo. Acontece que aquele homem descobriu que
não conhecia nada sobre as placas da cidade que ele limpava há anos. Por que tinham aqueles
nomes? Nomes esses que lhes soavam familiar como, por exemplo, a Rua Guimarães
Rosa. Assim, decidiu anotar os nomes a fim de fazer uma pesquisa sobre eles. Então descobriu milhões
de histórias e novidades. As placas levavam nomes de escritores, poetas e
músicos renomados e, para o Limpador de Placas foi uma maravilha aprender sobre
cada uma delas. Seu trabalho foi além e aquele homem sentiu-se realizado; até foi convidado para um programa de televisão, e no final......bem ai vocês
vão ter que descobrir. Só posso adiantar que é um final surpreendente e que nos
deixa uma bela lição.
E foi com essa linda história que
comecei a realizar um trabalho didático a partir da realidade daquele menino.
Claro que fui supervisionada pela professora titular da sala que, diga-se de
passagem, é maravilhosa e me ajudou bastante. Eu queria que, assim, como o
Limpador de Placas foi muito além de suas expectativas, aquela criança, que se
dizia má, também enxergasse além. De certa forma o menino não estava
errado o conhecimento salta para além da sala de aula. E, para tanto precisamos
fazer com que o ensino e aprendizado faça sentido real às crianças.
Assim, montamos um projeto sobre
literatura que superou minhas expectativas. A escola toda se mobilizou. E o
menino que queria viajar pelo mundo todo, aprendeu que é importante ir à escola, pois lá, ele aprenderia a ler e ler é fundamental para compreender o que diz as placas que mostram a direção da jornada que seguiria quando adulto. Literalmente.
E vocês? Têm histórias pedagógicas
para compartilhar? deixe nos comentários.
Beijos até a próxima
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