Autor: Machado de Assis
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Sabe aquelas conversas que a gente
escuta, por acaso, seja no ponto de ônibus ou sentados no banco do metrô que nos
envolve de uma maneira tão grande que, mesmo sem querer a gente começa a dar
uma atenção maior, inclina os ouvidos para ouvir com mais clareza os detalhes e
chega até sentir vontade de entrar na conversa e participar do dialogo, mas, as pessoas simplesmente descem do ônibus e a gente fica sem saber direito o
que aconteceu ao certo na história. E o que nos resta? Começar
a imaginar situações que se encaixem nos trechos ouvidos da conversa alheia.
Se isso nunca aconteceu com vocês, meus
parabéns porque comigo acontece muito. Não que eu seja curiosa, mas é que
sempre gostei de ouvir história..rs! E
hoje, a resenha é de um clássico da literatura brasileira que se encaixa
perfeitamente nessa alegoria citada acima.
O cenário é o Rio de Janeiro no século
XIX. Época das mansões e palacetes na qual a aristocracia participava de
bailes, atividades culturais e levava uma vida pautada no estilo europeu. E é nesse ambiente que
Bento Santiago começa a relatar a história de sua vida. Mas, evidentemente o
interesse dele não é somente nos apresentar sua biografia, na verdade o foco de
tudo é nos relatar sobre seu relacionamento com certa moça chamada Capitu.
Logo no começo de sua narrativa Bento
ou Bentinho nos revela a origem de seu apelido “Dom Casmurro” e que serviu de
inspiração para o titulo de seu livro. Foi dentro de um trem, um rapaz começou
a recitar versos ao lado de Bento, este, porém, cansado, cerrou os olhos por
instantes. Bastou para que o rapaz se zangasse e lhe colocasse o apelido de Casmurro. No entanto, segundo o narrador, não devemos levar o apelido no sentido descrito no dicionario, porém, como sendo ele um senhor introspectivo. Logo após a explicação,
Bento começa a narrativa falando sobre sua infância passando para juventude,
o curso de direito, o casamento com Capitu, o nascimento de seu filho, a
relação conturbada com seu amigo Escobar e, em fim a duvida da fidelidade de
sua esposa.
Haja vista que Dom Casmurro nos relata
que aos poucos, começa a perceber certas semelhas entre seu filho e o amigo
Escobar além de descreve Capitu como uma mulher sedutora, inteligente, astuta e
envolvente desde sua mocidade. “Capitu, apesar daqueles olhos que o diabo lhe deu... Você
já reparou nos olhos dela? São assim de cigana oblíqua e dissimulada”. Ao passo que ele, sempre
foi muito ingênuo e inocente. Será?
O fato é: houve traição ou não? Quem é
que sabe não é mesmo!
Afinal de contas o livro é narrado por
Bentinho que nos descreve somente a sua versão da história, e ele acredita piamente
na traição de sua esposa o qual era apaixonado desde a infância. Mas não
devemos esquecer que ele é Advogado e, portanto, pode nos envolver com
discursos tendenciosos omitindo ou acrescentando algumas informações caso
quisesse.
Quando a gente lê Dom Casmurro devemos
lembrar que não conhecemos todos os lados da história muito menos os
personagens verdadeiramente, afinal quem é que nos descreve a história mesmo?
Exato, Bento Santiago, um senhor amargurado e carrancudo. Será essa a
verdadeira razão do titulo de seu livro? Para essas perguntas e indagações não
teremos a resposta correta, pois, como no exemplo citado, os passageiros
desceram do ônibus e a gente ficou somente com meias verdades.
Dom Casmurro faz parte da fase
realista de Machado de Assis e é um clássico que vale muito a pena ler; lembrando também que é uma leitura cobrada no vestibular.
Beijos e até a próxima
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