terça-feira, 27 de setembro de 2016

Turbo

Neste último final de semana tirei um tempinho para assistir ao filme Turbo, uma animação da Dream Works que conta a história de Theo, um caracol de jardim aspirante a piloto de fórmula 1 que sonha em ser veloz o suficiente para poder participar de grandes corridas. Mas, o pequenino caracol se vê longe de realizar seu sonho, pois sua realidade naquele momento é bem diferente; Ele trabalhava em uma plantação de tomates na qual tinha que cumprir metas pesadas na colheita das frutas, e  além disso, era motivo de chacota dos colegas, por acreditar que um dia correria nas 500 milhas de Indianópolis, nem mesmo seu irmão acredita em seu potencial. Afinal, onde já se viu um caracol querer ser veloz o suficiente para correr em grandes torneios? Porém, um dia, graças às peripécias do destino, Theo é lançado para dentro do motor de um carro de corrida e, a partir dessa incrível experiência, ele se transforma em uma máquina muito veloz.
A partir daí, Theo viu sua lenta vida de sindicalizado se transformar em uma surpreendente aventura que o levaria ao tão sonhado sucesso. Em sua caminhada encontra Tito, um humano sonhador, americano, de origem latina, marginalizado e que tenta ganhar a vida, em uma pequena lanchonete vendendo comida mexicana, porém, assim como Theo, ele sonha com uma oportunidade para uma vida com maior mobilidade social, afinal sua lanchonete não ia muito bem, não havia muitos clientes e as condições de seu local de trabalho também não eram favoráveis. Assim, quando Tito e Theo se encontram tornam-se grandes aliados e amigos rumo ao sucesso.
E Viva o sonho americano!
Ao assistir a trama, confesso que achei a ideia de colocar um caracol com superpoderes para competir com verdadeiras máquinas de corrida, meio boba. É surreal imaginar essa possibilidade, o pequeno caracol morreria esmagado na corrida pelas grandes rodas dos carros. Mas, o que mais me chamou a atenção foi o tema central da história, ou seja, “Você pode ser o que quiser. Não desista dos seus sonhos, um dia você chega lá”. Sim minha gente, Turbo reproduz a imagem daqueles que acreditam que nada é capaz de detê-los, afinal, todos podem ser um sucesso. Você é um sucesso, eu sou um sucesso.
Mas, refletindo um pouco sobre o assunto, eu acho que, apesar de a mensagem do filme em certo ponto, ser legal, ele deveria ter terminado de outra madeira. É obvio que Theo, participa de uma grande corrida e vence no final, mesmo que isso seja a coisa mais surreal do universo! Eu não sou contra as pessoas sonharem mais alto e aspirarem por uma vida com condições melhores, quem não quer? Eu mesmo adoraria ganhar na Mega Sena e me tornar rica ....kkkk. O que eu quero dizer é que a ideia que muitas pessoas estão vendendo por ai, dizendo que todos podem se tornar um sucesso, é meio distorcida, por exemplo, muitos palestrantes vendem uma imagem de sucesso de forma pejorativa. Quantos de vocês já ouviram palestras motivacionais que diz auxiliar, supostamente, na escolha de uma carreira de sucesso? Eles pregam algo como: Seja o próximo Steve Jobs; Aprenda cinco passos para o sucesso; Como ser bem sucedido; Da periferia ao estrelato....e tantas outras que me dão sono só de pensar.
Mas, a pergunta é: você realmente pode ser o que quiser?
Se você é péssimo em matemática, não vai fazer um curso que exija o máximo de você nessa disciplina, não é mesmo? Se você sabe que não é produtiva no período da manhã, vai tentar encontrar algo para fazer que esteja dentro do seu horário produtivo, certo? O fato é que podemos sim ser um sucesso a partir das nossas competências, nos autoconhecendo e compreendendo as nossas potencialidades e limites.  Não estou dizendo que devemos deixar de superar nossas dificuldades, pelo contrário, o que eu quero dizer é que quando nos conhecemos, e entendemos no que realmente somos bons, temos mais opções para trilhar um caminho de sucesso. Afinal de contas sucesso é ter êxito em alguma coisa e não essas charlatanices que estamos acostumados a ouvir por ai. Assim, podemos ser um sucesso como professora na educação infantil, como gari, feirante, médica, motorista, cozinheiro entre outros. Você pode ser o que quiser respeitando, é claro, sua capacidade e aprimorando suas habilidades.
O filme é divertido e um bom entretenimento, porém, como já disse, acho a mensagem muito pejorativa, mas, cada um tem a sua opinião não é mesmo? Essa é minha.
Beijos e até a próxima.

quarta-feira, 21 de setembro de 2016

A Hora da Estrela

“Tudo começou com um sim. Uma molécula disse sim a outra molécula e nasceu a vida. Mas antes da pré-história havia a pré-história da pré-história e havia o nunca e havia o sim. sempre houve. Não sei o quê, mas sei que o universo jamais começou.”
Assim começa a história de Macabéa, uma nordestina bem característica que Clarice Lispector, brilhantemente descreve em seu livro - A Hora da Estrela. Não pense que foi fácil escrever qualquer coisa a respeito desse livro. Resenhar nunca foi tão difícil. “Não é fácil escrever. É duro como quebrar rochas.” Acontece que as obras de Clarice não são fáceis de ser compreendidas, não é atoa que muitos críticos a considerava hermética, ou seja, de difícil compreensão, enigmática.  A própria autora já declarou, em uma entrevista que, algumas de suas obras, ela mesma não entendia; é o caso de um de seus contos chamado O Ovo e a Galinha. Mas, vou tentar expor minhas reflexões sobre a obra, de maneira simples, para que todos entendam e consigam se apaixonar por essa maravilhosa história.
O livro é narrado por Rodrigo S.M, um escritor fictício que, andando pelas ruas do Rio de Janeiro, vê de relance no rosto de uma nordestina, o sentimento de perdição e, ao se deparar com aquele olhar inocente e perdido, consegue enxergar a história da pobre moça. Assim, começa a descrever, paulatinamente, a respeito da vida de Macabéa, uma alagoana, ignorante e virgem que se muda para cidade do Rio de Janeiro com sua tia. Esta cuidou da moça desde seus dois anos, quando os pais morreram. Macabéa se diz datilógrafa, porém, mais tarde, nos confessa que seu maior sonho era ser uma estrela de cinema. Mas, como tornar-se estrela de cinema se era feia e tinha cor de sujeira? O próprio Rodrigo S.M nos relata que, para escrever sua história ele teve que se vestir com roupas velhas e rasgadas, somente para se por ao nível da nordestina. Quem sabe se fosse como Glória, sua colega de trabalho, isto é, sensual e bem nutrida, Macabéa pudesse sonhar em chegar ao estrelato! O fato é que, por enquanto, trabalhava como datilógrafa para Raimundo, e ele a intimidava com constantes ameaças de demissão, pois a menina errava muito, era péssima datilógrafa.
Como era de se esperar, Macabéa acaba encontrando aquele que seria sua suposta alma gêmea; Olímpico de Jesus, um nordestino que trabalhava como operário em uma metalúrgica. Os dois se farejaram como os iguais de sua espécie, porém, Olímpico frequentemente, queixava-se da moça. Ela nunca tinha nada para falar e sempre repetia o que ouvia durante o dia na rádio. Acontece que o rapaz não tinha o menor prazer de estar com ela, pois a achava feia e sem sal. Um dia Olímpico conheceu Glória, amiga de Macabéa, e, de imediato, imaginou que teria melhor proveito com esta. Desse modo, termina seu relacionamento com "Maca". Pobre nordestina, sem sal, magra, inelegante e agora, sem namorado! O que seria de seus sonhos?
A história vai se desenrolando com um enredo surpreendente, misterioso e místico; confesso que quando li pela primeira vez essa história, eu achei que a trama teria outro final. Mas, é tempo de morangos, certo?
Depois que vocês leram esse brevíssimo relato, e quando digo brevíssimo, é porque realmente é uma gota mínima da história, devem estar imaginando... é só isso? O que tem de tão difícil em fazer uma resenha sobre a história de uma nordestina? Bem, tomando nota sobre alguns fatos sobre Clarice Lispector e sua obra, vocês entenderão o por que.
Em primeiro lugar devemos entender que esse romance faz parte de um gênero literário chamado intimista e, dessa forma, a narrativa está sempre no tempo psicológico dos personagens, trazendo a tona suas experiências traumáticas, questões espirituais e morais, assim, o exterior é secundário. Para ler Clarice, precisamos fazer uma investigação da alma de seus personagens e, mesmo que o foco desse romance seja de natureza social, precisamos perceber a essência de Macabéa. Em segundo lugar Macabéa é vista como o retrato do povo brasileiro daquela época e trás consigo todos os problemas sociais que a classe sofreu em seu primeiro contato com a cidade grande. Ela, assim como Macunaíma, personagem de Mario de Andrade, pode ser considerada como um anti-herói; tal fato é constantemente enfatizado no decorrer da narrativa de Rodrigo S.M, que sem nenhum pudor, descreve a nordestina Macabéa como uma mulher miserável, que mal tem consciência de sua existência.  
Agora, vocês sabiam que Clarice Lispector nasceu na Ucrânia e veio para o Brasil ainda pequenina e, quando chegou aqui, morou, juntamente com sua família, na casa de uma tia, irmã de sua mãe?  Que cresceu em Recife e depois foi morar no Rio de Janeiro? Que precisou trocar de nome ao chegar aqui, e de Haia Lispector se tornou Clarice Lispector? Que era meio mística e foi convidada para participar de um Congresso de Bruxas em Bogotá? Que fez datilografia, se formou em direito, mas preferiu ser redatora e jornalista? O que eu quero dizer com tudo isso é que, ao pesquisar a biografia de Clarice, encontramos fragmentos do enredo que compõe a história de Macabéa. Não tem como desvincular a autora da personagem, pois uma tem necessidade da outra. Certa vez, em uma entrevista para o programa Panorama na TV Cultura, Lispector diz que a inspiração para criar essa história se deu, quando viu uma feira nordestina no Rio de Janeiro. Naquele momento, acabou tendo uma epifania e, assim, nasceu a ideia de criar uma personagem nordestina que era tão pobre que só comia cachorro-quente, mas a história vai além disso; é a história de uma inocência pisada por uma miséria anônima que os nordestinos, freneticamente, sofrem por meio da exploração do sistema capitalista. É a história sobre o desamparo e a solidão dos seres-humanos.
Clarice Lispector costumava dizer que não se considerava escritora, pois só escrevia quando tinha vontade, ela preferia não ser profissional, pois, assim, mantinha sua liberdade. O que eu acho disso? Bem, ela pode não se considerar escritora, mas em sua conturbada vida, vivida intensamente e cheia de aventuras, ela pôde captar a essência humana. A Hora da Estrela foi seu último romance publicado em 1977, mesmo ano em que faleceu. O livro ganhou o prêmio Jabuti, um dos mais importantes prêmios da literatura brasileira. Então, se ainda não leu, essa incrível história, recomendo que o faça e depois, assistam também ao filme, pois não foge em nada do contexto da história.
Bem pessoal, é isso. Beijos e até a próxima.

Bibliografia
Panorama - TV Cultura entrevista com Clarice Lispector
Diverso - O Mundo de Clarice
Profissão Repórter - Clarice Lispector 

quarta-feira, 14 de setembro de 2016

O Pequeno Príncipe

Hoje me peguei pensando, com muito saudosismo, nas minhas aulas de literatura do ensino médio, já faz um tempinho, mas lembro-me saudosamente do meu último dia no 3º ano do ensino médio. Nas aulas, em cada bimestre, tínhamos que ler um livro de literatura que, provavelmente seria cobrado nas provas do vestibular e, por conseguinte, li grandes clássicos literários que me fizeram tomar gosto pela leitura. Clássicos como: Dom Casmurro, Memórias Póstumas, Memórias de um Sargento de Milícias, O Ateneu entre outros. Porém, no último bimestre, a professora fez algo diferente; ela deixou que a turma escolhesse a leitura como presente de despedida de suas aulas. Então, nos dividiu em pequenos grupos para que escolhêssemos, livremente, os livros que iriamos apresentar, em forma de teatro, no último dia de aula. Meu grupo escolheu O Pequeno Príncipe de Antoine de Saint-Exupéry. Confesso que no começo eu não gostei muito da ideia, achava que era um livro infantil meio boboca, porem não disse nada, pois todo o grupo havia votado a favor do livro e eu não queria ser à “do contra”. Dessa forma, li o livro e, para minha surpresa, adorei. Gostei da escrita e de todo simbolismo contido nas páginas. Se você ainda não teve a experiência de ler essa incrível fábula, faça-o de imediato. Não é um conto para crianças como eu imaginava, na verdade é uma linda história de amor entre um homem e sua rosa.
Bem, resumindo, a história retrata as lembranças de um piloto de avião que, sobrevoando o deserto do Saara, teve uma pane nos motores de seu dirigível e caiu.  Ele não morreu, mas ficou sozinho e com pouca água em meio ao sol escaldante do deserto; De repente o piloto se deparou com uma criatura bem inusitada; um menino, de cabelos dourados, com um cachecol amarrado a seu pescoço que lhe pedia insistentemente, o desenho de um carneiro. Quem era esse menino? Claro, era o Pequeno Príncipe, protagonista dessa história.
Acontece que o Pequeno Príncipe não morava na Terra, ele era de outro plante. Um dia, não se sabe de onde, uma pequena semente pousou em seu planeta e começou a brotar... Era uma rosa, linda, soberba, altiva, sagaz e delicada; o principezinho cuidou dela com carinho, regou, protegeu do vento e da chuva, e satisfez todos os seus desejos, mas, ao perceber o poder que aquela flor exercia sobre ele, não compreendendo muito bem seus sentimentos, resolveu fugir para bem longe dela.
Na fuga, conheceu muitos planetas, encontrou com pessoas diferentes e ouviu diversas histórias; em fim, chegou à Terra e aqui, além de conhecer personagens marcantes, ele finalmente pode compreender seus sentimentos para com sua amada rosa.
Tomando notas sobre a vida do autor, percebemos certas semelhanças entre a história citada acima, com sua própria biografia. Na verdade Antoine era piloto de avião e, como na história, também sofreu um acidente aéreo em pleno deserto, teve muitas alucinações por conta da desidratação, mas sobreviveu. Além desse fato, ainda podemos notar mais detalhes autobiográficos do autor no decorrer do livro; Acontece que Saint-Exupéry foi casado com uma moça,  nascida em El Salvador, considerada por muitos exótica e fogosa. Chamava-se Consuelo Suncin de Sandoval e, segundo alguns historiadores, ela era a pequena rosa  que desordenava os sentimentos do Pequeno Príncipe  aponto de faze-lo fugir. 
O casamento de Antoine e Consuelo não era lá essas coisas; passava longe de ser um daqueles contos de fadas lindos que nos emocionam. Eles brigavam muito e seu relacionamento era bem conturbado. E foi nesse cenário de idas e vindas conjugal, tentando compreender seus sentimentos para com sua esposa, que Saint-Exupéry criou essa história de amor que passaria por gerações .
Antoine de Saint-Exupéry, a partir de uma narrativa suave e envolvente, prende nossa atenção aos detalhes que descreve e, a partir de suas  ilustrações lindas em aquarela, sentimos essa história ainda mais doce e singela. Não é atoa que O Pequeno Príncipe é o terceiro livro mais vendido no mundo.
Bom, é isso. Espero que tenham gostado.
Beijos e até a próxima. 

Bibliografia:
http://www.zeperri.org/saint-exupery/as-mulheres/

domingo, 11 de setembro de 2016

O Show da Vida


Você já parou para imaginar, se tudo o que viveu até agora fosse uma mentira? Sim, exatamente tudo, desde seu nascimento?  E se sua vida tivesse sido projetada para que você pensasse estar vivendo uma vida real, mas na realidade faz parte de um grande reality show?
Na indicação de filmes de hoje, trago a vocês o célebre drama The Truman show que vai contar a história de Truman Burbank interpretado por Jim Carrey...Não se engane ao pensar que, somente porque Jim Carrey faz o papel principal, o filme é uma daquelas comédias baratas. Na verdade é uma obra muito bem construída que nos leva a fazer grandes reflexões e existem diversos pensamentos ideológicos embutidos no enredo que são uma delicia de se ver desenrolar. 
Truman é um corretor de seguros, casado e supostamente feliz que, durante toda sua vida, desde o seu nascimento é filmado em um enorme estúdio cinematográfico montado especialmente para transmitir, ao vivo, o grande show de sua vida. Acontece que Truman não sabe que faz parte desse reality show e que sua vida serve de entretenimento para a grande massa. Tudo no mundo dele é falso! Sua mãe, esposa, amigos, emprego, e até mesmo os efeitos climáticos.
Sim amigos, “há algo de podre no reino da Dinamarca”. Mas, deixando de lado as inquietações de Hamlet, tomemos nota por um momento sobre a incrível obra de Platão denominada de O Mito da Caverna. Aqui temos a imagem de prisioneiros que, desde o nascimento, vivem acorrentados dentro de uma caverna escura. Obrigados a ter a mesma visão sempre, pois a sua frente só havia uma parede iluminada pelas faíscas de uma fogueira, os prisioneiros tinham como realidade, sobre o outro lado, apenas sombras aparentes da verdade.
As duas histórias se combinam, não é mesmo? Tanto o filme quanto a obra de Platão, nos revelam reflexões profundas a respeito das amarras ideológicas que construímos ao longo de nossas vidas por falta, muitas vezes, de conhecimento próprio e reflexões sobre mundo a nossa volta.
Truman acredita fidedignamente na veracidade de sua vida e não se dá conta que apenas enxerga as sombras do mundo real.
Será que nosso querido protagonista vai continuar alienado nessa grande manipulação midiática ou vai quebrar seus grilhões e libertar-se, abandonando de vez a caverna escura? Bem, isso eu não posso contar, vocês vão precisar assistir ao filme para descobrir.
Espero que tenham gostado! Beijos e até a próxima.

sexta-feira, 9 de setembro de 2016

Conversas com um Jovem Professor

Você estudou durante quatro anos, se formou honrosamente, pegou o diploma e logo seguiu para o mercado de trabalho cheio de sonhos, expectativas e convicções ideológicas sobre a educação; afinal, nesses longos anos, estudou rigorosamente, leu diversos artigos e textos exaustivos, aprendeu sobre pensadores que deram contribuições inigualáveis para o processo aprendizagem dos alunos e para sua formação também, é claro. Os estágios supervisionados te proporcionou a prática de que tanto ouviu falar durante o curso. Nomes como Emília Ferreiro, Jussara Hoffmann, Paulo Freire, Vygotsky, Piaget e tantos outros permeavam as aulas e norteava seu aprendizado rumo ao sucesso. Então, você saiu da faculdade convicta que está preparadíssima para exercer essa incrível profissão de docente.
É, aconteceu comigo também.
Me formei, peguei o diploma e adentrei rumo ao sonho de ser professora. Queria por em prática logo todas as teorias pedagógicas que apreendi e, não que eu queira me gabar, mas era uma excelente aluna e levava muito a sério meus estudos, afinal de contas, muito em breve seria responsável pela formação de outras pessoas.
Sempre quis ser professora; desde pequena ensinava para minhas irmãs tudo que aprendia na escola, inclusive, uma delas, quando chegou o tempo de ir para o pré, já sabia ler, escrever, somar, multiplicar e subtrair. O que eu quero dizer com isso é que pulsava dentro de mim um desejo muito grande de ser professora, ter minha sala de aula repleta de alunos, corrigir provas, cadernos, preparar atividades entre outras coisas. Fiz o curso exatamente porque já me via como docente, não porque era o mais barato ou por precisar de um diploma qualquer como, infelizmente, vemos hoje em dia acontecer. Bem, deixemos essa discussão para outro dia.
Quando cheguei à sala de aula pela primeira vez, socorro!
“Você preencheu o diário errado, refaça”; “Corra, saia da sala com seus alunos, pois vai chover e sua sala alaga”; “Deixe de ser tola, essa suas ideias não levam a nada, faça do modo tradicional que está de bom tamanho”; “Infelizmente a escola não tem verba para isso”, “você viu como essa novata gosta de inventar, odeio professores novos cheios de ideias furadas”.
Pois é gente, frequentei uma excelente faculdade, fui uma boa aluna, li e reli todas as teorias que me foram passadas, compreendo as contribuições que grandes pensadores da educação nos deixaram, mas a realidade da escola, você só aprende quando já está inserido no sistema. E é sobre isso que o livro de hoje vai falar.
Leandro Karnal é professor de história há 30 anos e, a partir desse singelo livro, resolveu ter uma conversinha bem franca, com os jovens professores; sim, você mesmo que acabou de se formar ou está prestes ao egresso e, até com vocês que estão pensando em se tornar professores. Aqui ele reúne verdades do ambiente escolar, verdades essas que se apresentam de forma positivas e negativas quanto a docência, mas, que podem auxiliar na escolha da profissão bem como nortear algumas dúvidas que não aprendemos na faculdade.
Resolvi listar 5 motivos para você ler esse livro , se é que ainda seja preciso depois do que já relatei até agora.  
Mas, vamos lá:
   1º Motivo: A escrita do autor é ótima. Muitos se assustam quando escutam alguma entrevista dada por Karnal, afinal, ele é um erudito que domina muito bem a arte da dialética. Não se preocupe, o livro é uma delicia de ler e de fácil compreensão.
  2º Motivo: Não é um livro didático cheio de termos pedagógicos difíceis de entender, pelo contrário, aqui, Karnal revela muitas das teorias vistas na faculdade de maneira prática, ou seja, dá sentido real a elas a partir de suas experiências.
3º Motivo: Leandro Karnal relata os erros que cometeu nos primeiros anos como professor e  a maneira com que tratou determinados assuntos e situações delicadas no contexto escolar. Em seguida, relata como agora, depois de 30 anos, teria se comportado frente a essas situações.
4º Motivo: O livro traz fatos reais do cotidiano escolar. E quando eu digo real, são reais mesmo, sem magia ou encantamento, a verdade mesmo. É surpreendente!
 5º Motivo: Todos os capítulos terminam com uma contextualização por meio de citações de filmes. Se você já é professor, com certeza assistiu, se não todos, a grande maioria desses filmes.
Depois da leitura do livro, você está preparado para responder, a sim próprio, se a profissão de docente é realmente a que deseja, pois aqui, não existem fantasias pedagógicas, são verdades que podem até te assustar, mas que devem ser ditas. Então, quando estiver lendo, reflita, pense bem se ser docente é sua vocação. Não seja um profissional mediano. E para concluir, me inspirando em Leandro Karnal, deixo para vocês a dica de um filme bem legal que assisti ainda nessa semana, se chama Além da Sala de Aula. O filme retrata algumas das muitas dificuldades descritas por Karnal em seu livro e a real vantagem de ser professor.  
Espero que tenham gostado das minhas reflexões.
Beijos e até a próxima.

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Contos de Fadas

Quando eu era criança adorava ouvir as histórias dos contos de fadas. Sempre fui apaixonada por todo esse mundo mágico do... Era uma vez e, mesmo sem saber ler, tentava contar a história a partir das ilustrações que via nos livros. Mas, vou confessar um segredo, às vezes eu ficava triste ao pensar que logo cresceria e, talvez perdesse o interesse por esse tipo de leitura, pois, a meu ver, crescer implicava em responsabilidades das quais me iriam afastar das coisas de criança que tanto gostava. Para minha surpresa à medida que crescia as histórias, que outrora me fascinavam por toda magia e romance contidos, me acompanharam, elas cresceram juntamente comigo e se adaptaram; hoje estão muito mais misteriosas e enigmáticas do que nunca.
Em Once Upon a Time, uma série americana da ABC, observamos várias dessas adaptações.  O enredo mesclam o mundo real com as histórias contidas nos contos de fadas, porém os personagens da trama têm características totalmente diferentes das que estamos acostumadas; na verdade todos apresentam seu lado bom e mal, não importa se você é o mocinho ou o vilão, fada ou bruxa, rica ou pobre, todos demonstram comportamentos característicos do contexto que estão inseridos. O mais legal é que as histórias se misturam e seguem uma forma linear que entrelaçam os contos sem deixar pontas soltas. Tudo acontece quando a Rainha Má lança um feitiço e manda todos os personagens dos contos de fada para uma cidade fictícia chamada Storybrooke; lá, sem memória, eles pensam serem pessoas normais. Apesar de parecer boba, a série é muito intrigante e, para quem ama contos de fadas assim como eu, não pode deixar de assistir.
Eu, particularmente, acho o máximo essas mudanças nas histórias, um conto que outrora se apresentava suave e inocente, agora ressurge repleto de características sinistras. E foi assistindo essa série que comecei a refletindo sobre a origem de tais histórias e, querendo entender melhor o contexto dos contos de fadas, resolvi tomar notas de alguns fatos sobre eles.
Segundo alguns pesquisadores, a origem dos contos de fadas é muito antiga, datam da Idade do Bronze, ou seja, mais ou menos 3000 a.C. Essas histórias eram transmitidas verbalmente e contatas de acordo com a cultura de cada povo; geralmente eram passadas de pai para filho a fim de ensinar algo, dar uma lição de moral e explicar particularidades da vida adulta para as crianças. Dessa forma, as histórias foram espalhadas e internalizadas por todos que ouviam; mas, as histórias contadas nesse período eram bem diferentes das de hoje em dia. 
Antigamente, não existia o conceito de infância e nem distinção entre crianças e adultos, até então a fase de meninice terminava para as crianças a partir de seus seis e sete anos. Quando atingiam essa idade começavam a conviver definitivamente com os adultos, meninos com os homens e meninas as com mulheres; isso implicava em segui-los frequentemente em tudo, desde o trabalho a ambientes boêmios e noturnos. Segundo o historiador francês Philippe Ariès, as crianças eram diferentes dos homens somente no tamanho e na força, porém as outras características permaneciam iguais. Talvez seja por isso que os contos, antigamente eram carregados de elementos assustadores que faziam menção a violência, sexismo, esquartejamentos, canibalismo entre outras coisas.  Para quem quiser pesquisar mais sobre esse assunto deixo como dica de leitura os livros: História Social da Criança e da Família escrito por Philippe Ariès e A Psicanálise dos Contos de Fadas do autor Bruno Bettelheim; são ótimas leituras e inclusive fundamentei minhas reflexões neles.
Depois de um tempo essas histórias foram levemente adaptadas pelo francês Charles Perrault que reuniu algumas histórias e criou a primeira coletânea dos contos de fadas, porém, Perrault ainda as apresentava de maneira sangrenta. Mais tarde com irmãos Grimm e Hans Christian Andersen as histórias foram amenizadas e adequadas de forma a serem mais suaves e inocentes.
Agora, imagina vocês, contando para as crianças a história de Chapeuzinho Vermelho seguindo uma, das várias versões bizarras que existem? Por exemplo, a de uma versão francesa que alega que o lobo mau mata e esquarteja a vovozinha e ainda oferece o sangue da velhinha, como se fosse vinho para Chapeuzinho beber; depois de saciar a fome, praticando canibalismo, o lobo deseja saciar os prazeres da carne, pedindo para que a doce Chapeuzinho tire a roupa e deite-se ao seu lado. Sinistro né?!
Hoje há uma preocupação no impacto que certos contos podem provocar nas crianças, e, assim, algumas temáticas violentas e macabras foram parcialmente amenizadas, mas não excluídas totalmente, afinal, a madrasta má ainda pede para que o caçador mate a Branca de Neve além de continuar querendo envenená-la com uma maçã.
Depois dessa pesquisa, vi que os contos de fadas são eternos, sempre serão adaptados e contados de acordo com o contexto social que esteja inserido. Quem leu a minha postagem sobre o filme Deu a Louca na Cinderela, pôde observar as mudanças feitas na história por puro contexto social. E quem não se lembra da incrível Princesa Tiana do filme A Princesa e o Sapo? A primeira princesa negra da Disney  foi criada logo após a Ascensão de Barack Obama à presidência. 
O fato é que as histórias vão se transformando de acordo com as necessidades de uma determinada sociedade.
Espero que tenham gostado.

Beijos e até a Próxima.