quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Contos de Fadas

Quando eu era criança adorava ouvir as histórias dos contos de fadas. Sempre fui apaixonada por todo esse mundo mágico do... Era uma vez e, mesmo sem saber ler, tentava contar a história a partir das ilustrações que via nos livros. Mas, vou confessar um segredo, às vezes eu ficava triste ao pensar que logo cresceria e, talvez perdesse o interesse por esse tipo de leitura, pois, a meu ver, crescer implicava em responsabilidades das quais me iriam afastar das coisas de criança que tanto gostava. Para minha surpresa à medida que crescia as histórias, que outrora me fascinavam por toda magia e romance contidos, me acompanharam, elas cresceram juntamente comigo e se adaptaram; hoje estão muito mais misteriosas e enigmáticas do que nunca.
Em Once Upon a Time, uma série americana da ABC, observamos várias dessas adaptações.  O enredo mesclam o mundo real com as histórias contidas nos contos de fadas, porém os personagens da trama têm características totalmente diferentes das que estamos acostumadas; na verdade todos apresentam seu lado bom e mal, não importa se você é o mocinho ou o vilão, fada ou bruxa, rica ou pobre, todos demonstram comportamentos característicos do contexto que estão inseridos. O mais legal é que as histórias se misturam e seguem uma forma linear que entrelaçam os contos sem deixar pontas soltas. Tudo acontece quando a Rainha Má lança um feitiço e manda todos os personagens dos contos de fada para uma cidade fictícia chamada Storybrooke; lá, sem memória, eles pensam serem pessoas normais. Apesar de parecer boba, a série é muito intrigante e, para quem ama contos de fadas assim como eu, não pode deixar de assistir.
Eu, particularmente, acho o máximo essas mudanças nas histórias, um conto que outrora se apresentava suave e inocente, agora ressurge repleto de características sinistras. E foi assistindo essa série que comecei a refletindo sobre a origem de tais histórias e, querendo entender melhor o contexto dos contos de fadas, resolvi tomar notas de alguns fatos sobre eles.
Segundo alguns pesquisadores, a origem dos contos de fadas é muito antiga, datam da Idade do Bronze, ou seja, mais ou menos 3000 a.C. Essas histórias eram transmitidas verbalmente e contatas de acordo com a cultura de cada povo; geralmente eram passadas de pai para filho a fim de ensinar algo, dar uma lição de moral e explicar particularidades da vida adulta para as crianças. Dessa forma, as histórias foram espalhadas e internalizadas por todos que ouviam; mas, as histórias contadas nesse período eram bem diferentes das de hoje em dia. 
Antigamente, não existia o conceito de infância e nem distinção entre crianças e adultos, até então a fase de meninice terminava para as crianças a partir de seus seis e sete anos. Quando atingiam essa idade começavam a conviver definitivamente com os adultos, meninos com os homens e meninas as com mulheres; isso implicava em segui-los frequentemente em tudo, desde o trabalho a ambientes boêmios e noturnos. Segundo o historiador francês Philippe Ariès, as crianças eram diferentes dos homens somente no tamanho e na força, porém as outras características permaneciam iguais. Talvez seja por isso que os contos, antigamente eram carregados de elementos assustadores que faziam menção a violência, sexismo, esquartejamentos, canibalismo entre outras coisas.  Para quem quiser pesquisar mais sobre esse assunto deixo como dica de leitura os livros: História Social da Criança e da Família escrito por Philippe Ariès e A Psicanálise dos Contos de Fadas do autor Bruno Bettelheim; são ótimas leituras e inclusive fundamentei minhas reflexões neles.
Depois de um tempo essas histórias foram levemente adaptadas pelo francês Charles Perrault que reuniu algumas histórias e criou a primeira coletânea dos contos de fadas, porém, Perrault ainda as apresentava de maneira sangrenta. Mais tarde com irmãos Grimm e Hans Christian Andersen as histórias foram amenizadas e adequadas de forma a serem mais suaves e inocentes.
Agora, imagina vocês, contando para as crianças a história de Chapeuzinho Vermelho seguindo uma, das várias versões bizarras que existem? Por exemplo, a de uma versão francesa que alega que o lobo mau mata e esquarteja a vovozinha e ainda oferece o sangue da velhinha, como se fosse vinho para Chapeuzinho beber; depois de saciar a fome, praticando canibalismo, o lobo deseja saciar os prazeres da carne, pedindo para que a doce Chapeuzinho tire a roupa e deite-se ao seu lado. Sinistro né?!
Hoje há uma preocupação no impacto que certos contos podem provocar nas crianças, e, assim, algumas temáticas violentas e macabras foram parcialmente amenizadas, mas não excluídas totalmente, afinal, a madrasta má ainda pede para que o caçador mate a Branca de Neve além de continuar querendo envenená-la com uma maçã.
Depois dessa pesquisa, vi que os contos de fadas são eternos, sempre serão adaptados e contados de acordo com o contexto social que esteja inserido. Quem leu a minha postagem sobre o filme Deu a Louca na Cinderela, pôde observar as mudanças feitas na história por puro contexto social. E quem não se lembra da incrível Princesa Tiana do filme A Princesa e o Sapo? A primeira princesa negra da Disney  foi criada logo após a Ascensão de Barack Obama à presidência. 
O fato é que as histórias vão se transformando de acordo com as necessidades de uma determinada sociedade.
Espero que tenham gostado.

Beijos e até a Próxima.  

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